Cartões / Vales oferta

No campo dos aniversários e afins, a grande dor de cabeça é, primeiramente, de quem tem de oferecer alguma coisa?
-o que é que ela precisa para a casa?
-será que ele prefere esta camisola azul ou esta camisola rosa-choque?


Mas há sempre um fim para este tormento. Na pior das hipóteses, compra-se um par de sandálias de bambu da Nova Zelândia e está feito.

Claro que, com isto, segue-se nova dor de cabeça. Desta feita, maior ? é a dor de cabeça de quem recebe uma coisa de que não precisa e não gosta. De todo. Ainda assim, a dita vítima engole em seco o orgulho e pronta e educadamente oferece um sorriso amarelo; seguem-se as típicas expressões "É giro, é giro..." e "Oh, não precisavas!..."; os convidados vão-se despedindo da festa que custou a penhora do casaco de castor da tia-avó Avelina e, no silêncio da noite, fica-se a olhar para o monte de presentes cuja inutilidade roça o tamanho do monte Fuji e cujo asco se assemelha aos géisers na Islândia (se é que há géisers na Islândia...).

Portanto, chegados a este ponto, nada mais podemos fazer do que suspirar.

Claro que as lojas já inventaram uma solução para o problema: os cartões / vales oferta. A pessoa compra um cartão dentro de 'x' valor e o aniversariante regressa depois à loja para, com esse cartão, comprar o que mais gostar. Contudo, as pessoas parecem preferir não dar ouvidos às lojas, e compram o que bem lhes apetece, obrigando toda a gente a regressar depois com ar de enjoo e pedir o valor da camisola, para então trocar por outra coisa qualquer. Não é cómodo. Mas é o que se pode arranjar.

Consequência: o nosso amigo compra-nos um par de luvas com pêlo de urtiga que nós depois trocamos por uma camisola de lã, deixando na loja mais ?15, o valor da diferença.

É por isso que eu acredito já ter descoberto todo o tortuoso esquema que rodeia estes cartões / vales de oferta; a coisa deve-se passar mais ou menos assim ? a malta chega-se ao gerente da loja e diz que vai comprar um presente para alguém; o gerente logo dirá que têm cartões e vales de oferta, mas que se levarem uma peça de roupa lhe fazem um desconto de 15%. O papalvos somos então nós, os aniversariantes, que dois dias depois ali estamos a devolver as luvas e a levar uma camisola para casa. Não admira que no fim de cada mês as lojas tenham então uma facturação abismal.

O truque para que isto funcione lindamente é este: luvas, cachecóis, gorros e meias horríveis - não há ser humano que resista. A partir daqui, ou se guardam as ditas luvas para oferecer a um desgraçado aniversariante um ano depois, ou a solução é mesmo despender algumas notas e trocar por algo melhor.

Conclusão final: quando fizerem anos, peçam para não vos oferecerem nada; da última vez, em trocas de prendas nas ditas lojas desembolsei, no final, uma bonita soma de 90 euros. Precisamente o dinheiro que tinha guardado para comprar toda a colecção de miniaturas de leques de Andorra da Altaya.

Não se faz.

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