Presentes & Crianças

Qual é a piada de recebermos presentes no nosso aniversário e no Natal? Já estamos à espera deles! No fundo, isso funciona mais como uma pressão (até mais como incentivo a ataque de ansiedade crónica) do que propriamente ocasião de alegria, rejubilo e felicidade.

Um mês antes inicia-se o stress.

Começamos a receber piscadelas de olho. Ali estão eles, os amigos e familiares, a tilintarem os olhos de cada vez que nós passamos em frente desta ou daquela montra. Depois iniciam-se as conversas suspeitas com perguntas ainda mais estranhas (a meio das quais tossem veementemente e nos voltam as costas, para escreverem qualquer coisa num caderninho). Por fim, há os que vivem sempre em maior ansiedade do que nós, atacados pela falta de ar e falta de imaginação, e que prestes a dar entrada no Hospital por ataque de pânico preferem então desabafar:
-Meu, a sério, diz-me por favor: o que é que tu queres para o Natal!

E tudo isto começa bem cedo.

Veja-se as crianças, em Dezembro.
Toda a gente lhes pergunta o que querem receber. Obrigam-nas a escrever longas cartas ao Pai Natal (que nós sabemos que existe mas que não percebe puto de Português e portanto nunca vai ler aquelas cartas), fazem-lhes interrogatórios dissimulados e minuciosos e, no meio disto, elas lá vão desejando e desejando, pedindo uma e outra coisa.

O mais irónico no meio disto tudo é que, grande parte das vezes, depois de tanto esforço e preocupação, uma grande parte de nós acaba mesmo por receber aquele conjunto de secretária de que não precisa.

Tanto stress!
Tanta preocupação!
Tanto vexame!
E para quê?
Se já nos queriam oferecer de antemão aquele conjunto de secretária, para que é que nos andaram a cacetear durante um mês!?

É por isso que eu gostava que as crianças tivessem direito a advogado. Eu não preciso. Já não vou a tempo. Fiz dezanove ainda o mês passado. Não, dezoito. E para mais, os traumas estão por demais velhos e enraizados. Mas as crianças! Bem, as crianças de hoje merecem isso.

Até porque uma outra coisa que não percebo no Natal é mesmo essa parte das cartas que as crianças escrevem. E não é só devido ao já explicado acima. É que me parece tudo algo suspeito... De que valem as cartas às crianças!? Ali descrevem elas o que desejam receber, minuciosamente, e ainda as obrigam a assinar no fim. Com o nome completo! E depois, chegando ao dia 25, ao verem que não receberam nada do que tinham pedido, como é? Onde estão as cartas?

Acho que seria bem mais honesto deixar os originais das cartas com as crianças, e enviar apenas um duplicado/cópia. Assim, no dia 26, caso as crianças se sentissem defraudadas nos seus desejos, poderiam sempre invocar as instâncias superiores e reclamar com força. E com provas.

É que não se faz... Andam elas metidas em pesquisas nos catálogos todos da Toys R?Us e dos Hipermercados e para quê!? Tanta escolha, tanta cedência, e no fim...

Apelo-vos:
Crianças, uni-vos! Guardem duplicados das vossas cartas e façam valer os vossos direitos!

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