(cont.)The end, my friend

E se vocês fossem fruta? Como preferiam acabar os vossos dias?

É que reparem: de facto, a fruta não tem grandes alternativas.
Não tem mesmo.
Senão, vejamos em detalhe as formas infelizes e dolorosas de terminar os seus dias como peça de fruta:

A) esmagamento- a dita e rechonchuda laranja é lançada para uma maquineta qualquer que a pisa e espreme até ao mais pequeno gomo, até à mais pequenina fibra, até que nem uma só gota de vitamina C mais saia dela; o processo reporta-nos aos mais cruéis actos de tortura que o homem, e só o homem, é capaz de infligir.

B) apodrecimento- o mesmo é dizer que ninguém gosta de nós e somos vetados ao esquecimento; ali ficamos, depois de uma vida inteira dedicada a crescer, inchar e formar-se o corpo em pleno, ali ficamos depois pendurados, numa espera interminável, qual Romeu desesperado, a ver as mãos chegarem e partirem sem nunca nos escolherem; até ao dia, esse dia fatídico em que caímos do ramo, velhos, moles, a casca a acusar já bolores invasores, e mesmo depois dessa queda dolorosa e desse choque com o solo, ali ficamos, eternamente, a ser devorados pelas bactérias, pelos insectos, lentamente a morrer e a ser consumidos pela terra, em total e completa agonia silenciosa...

C) trituração- imaginem-se uma banana, amarela, viçosa, longa, macia... agora imaginem cair numa plataforma que vos leva num suave tremelique por um breve passeio, e depois, bem, depois é o que já se sabe ? quatro ou cinco hélices do aço mais afiado que há a girar, onde vocês cairão e serão completamente desfeitos em pedaços, desde a fímbria da vossa casca fibrosa ao mais delicado, dócil e lamacento corpo de banana madura...

D) mastigada- (igual à trituração, só que pelo caminho seríamos temperados, regados e depois o acto de nos desfazer seria gradual, lento e doloroso, com a agravante de termos de levar com o hálito pestilento de alguém).


Haverá certamente muitas outras formas de acabar como as peças de fruta. Haverá certamente ainda o caminho da faca, os ácidos, ou, simplesmente, ser enterrada viva, apenas porque se faz parte de um excesso de produção...

Seja como for, meus amigos, quanto a vocês não sei, mas eu, se fosse ser vivo sem cérebro, preferia muita coisa; menos ser fruta.

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