CAT POWER: concerto, desconcerto, concerto, desconcerto...

Cat Power (aka Chan Marshall) por ali desfilou bamboleante no palco da Aula Magna.
(corredores a abarrotar, by the way...)

Sapatos brancos, novos, portugueses, e o aparente estiloso desiquilíbrio equilibrado de gata em telhado de zinco quente acaba, mesmo, por se transformar na inglória mancha e marca do concerto. Riffs acertados em desacerto, músicas interrompidas a meio, e aqui e ali aquela voz - AH! a Voz!...

Desesperada, talvez, ou quiçá bamboleante entre o aqui e acoli, neste ou noutro mundo, Cat tenta o piano e falha uma nota, sai dali e pede desculpa. Pega na guitarra, afina-a por 15 ou 20 segundos que parecem eternidades, e a partir desse instante segue-se o primeiro de dois geniais momentos que qualquer ser humano mais atento terá guardado para todo o sempre.

Por entre o desespero de retomar o concerto, de o devolver à vida, de o salvar da penúria, Cat sussurra e lamenta, geme e treme a voz e agita o corpo e a guitarra. Não canta. Dá tudo em desespero de causa. E é precisamente pela tenebrosa circunstância que as duas músicas a solo no palco lhe saem tão fabulosamente e inacreditavelmente mágicas, celestiais, únicas. Mesmo com as falhas. Apesar das falhas. Graças às falhas.

Quantas vezes poderemos nós ter o privilégio de ver um dos músicos da nossa alma em procura da salvação e, melhor do que isso, a fazê-lo enquanto canta?




E é precisamente disto que se fazem os concertos. De momentos não encenados. Tal como a longa dissertação sobre Crazy, de Gnarls Barkley, onde ao fim de 15 minutos toda a Aula Magna pulava.

Pode não ter sido bom, mas ninguém disse que um mau concerto não poderia estar pontilhado de momentos absolutamente inebriantes e praticamente irrepetíveis.

POSTED BY Unknown
POSTED IN , ,
DISCUSSION 1 Comment

One Response to : CAT POWER: concerto, desconcerto, concerto, desconcerto...

  1. Anónimo says:

    Olá Ric.
    Em resposta ao teu comment ( e a este post, q é uma brilhante descrição, BTW), a minha questão com a Cat Power é daquelas que vem das entranhas. N há salvação possível. N consigo, nem nc conseguirei gostar dela. às xs, com os músicos é como com as pessoas: n passam os portões da nossa alma;)