xmas&2005
venho por este meio desejar aos três leitores que cá vêm ler este blog (portanto, ao meu heterónimo, à minha mulher e ao meu vizinho de cima, que passa a vida a tentar descobrir como me há-de estragar o blog) um g'anda xmas e um xalente 2005.
se mais alguém por aqui vier passar os olhos,
é pá, o mesmo p'a vocês também!
como diria o meu amigo NunoGodinho: namaste!
Cães nos cafés
Muita gente se chateia quando vai a um café e tem de deixar o cão à porta.
De que é que estavam à espera?!?
Os senhores do café só estão a ser responsáveis e misericordiosos. Pois como acham que se sente um cão ao entrar num antro de caramelos, rebuçados, bolos cremosos, pastéis de carne, fatias de salame, queijos amontoados sobre outros queijos, rissóis e sandes de lombo assado!? Só o cheiro de isso tudo já lhes é penoso o suficiente!
Aliás, bem vistas as coisas, é minha opinião que se fizesse o mesmo em muitas outras situações. Hoje em dia, temos de ser muito mais conscienciosos.
Veja-se o caso das casas de brinquedos!
Eis um dos grandes exemplos de irresponsabilidade. Também aí deveriam haver sinais que impedissem os pais de levar os miúdos lá para dentro.
Que crueldade...
Ainda nem têm mesada ou ordenado mínimo e ali estão eles, inocentes, puros, a serem arrastados para um delírio de tentação e desejo.
Não se faz.
Claro que, apesar disso, é engraçado ver os pais com ar seguro e responsável dizerem aos seus filhos:
-João, tens de perceber que não podemos comprar tudo o que nos apetece; mas claro, apesar de eu saber isso, só entrei aqui para te fazer sofrer e sair sem levar um único Lego. Mas tu compreendes isso, não compreendes!?
Experiência caseira
Tenho uma caneta bic pendurada lá em casa. Está ali há mais de 4 meses. Sem tampa. Completamente aberta. O tubo de tinta cheio que nem um ovo! Que nem um coco prestes a cair do ramo! Ali está ela, esguia, translúcida, aberta, com o rabo de plástico preso a um fio de pesca que por sua vez se segura num mágico gancho da Tesa, no tecto. Segundo eles dizem, lá na bic, a tinta nunca irá sair pelo bico. E é verdade. Pelo menos há já 4 meses. Daqui a mais 2 dou por terminada a minha experiência. Se até lá o raio da caneta não tiver feito tábua rasa ao marketing da bic, o meu sofá velho não irá ficar cheio de tinta azul e de nada me servirão as já 960 cassetes de vídeo de 180min. com tudo filmado...
(É verdade que se somar o valor das cassetes já poderia ter comprado um sofá novo; mas digam-me sinceramente: acreditavam também vocês que eles tinham testado o raio das canetas!?!)
Escrita Criativa
Às vezes perguntam-me o que é a escrita criativa.
A resposta não é fácil.
É que a escrita criativa não tem nada a ver com estruturar ideias. Muito pelo contrário. Porque é daquelas coisas que só os tipos que nunca sabem tirar as meias dos pés como deve ser, sabem fazer. E esses tipos sabem fazer tudo, menos estruturar ideias e tirar as meias dos pés como manda a lei.
A sério.
Deve haver alguma tese sobre isto bem mais fundamentada. Mas no fim, esse crânio e eu estaremos intimamente ligados pela mesma conclusão: gajos que escrevem criativamente bem são aqueles gajos que se trocam por completo no que toca a pares de peúgas.
Gavetas cheias delas onde metade não está com o par certo; quedas bailarínicas enquanto tais escribas tentam tirar as ditas das patas; bolas de algodão amarfanhadas e disformes, espalhadas pelos recantos escondidos da casa no percurso entre a cama do quarto e o cesto da roupa...
São assim os criativos da escrita: loucos, aluados, perdidos no seu mundo único!
Assim, sublinhe-se: escrita criativa é não saber tirar as meias, não saber lavá-las, e sobretudo, não saber de uma delas quando já se calçou a outra (após se ter repetido o mesmo para todos os pares na gaveta funda...).
Deste modo, se algum dia um jovem empregado ou colega vosso chegar atrasado e usar o argumento de que esteve a arrumar a gaveta das meias para poder encontrar o par delas todas - sorriam, e digam-lhe que "tudo bem!".
Afinal, vocês estão na presença de um génio.
Constipações
é quando estamos VERDADEIRAMENTE constipados que percebemos o conceito de "papel macio". Até então, tudo não passa disso mesmo, um conceito perdido na nossa cabecinha. Mas é nesse dia fatídico, nesse dia de nariz húmido e ferido, de lábios gretados e pele seca, que damos valor e percebemos a diferença entre um pacote Renova e rolo de cozinha...
Tiques
O mais interessante nas pessoas que usam óculos ou fumam são os tiques.
Eu adorava usar óculos ou fumar, só para poder ter aqueles tiques.
O problema é mesmo o dinheiro.
Fumar um maço por dia custa dois salários mínimos ao fim do ano. E as armações leves e estilosas custam uma pipa de massa.
Por isso, aqui se desarma o argumento cinematográfico que nos vêm incutindo ao longo dos anos, de que todos podemos ser grandes ídolos cheios de tiques mágicos ao vislumbre dos quais qualquer ?babe? logo desfalecerá.
Nada disso.
Para ter o tique mágico de um Bogart a retirar o cigarro da boca e assim pôr meia plateia a cair para o lado, só mesmo auferindo um belo ordenado de estrela.
Isso ou então optar por aqueles cigarritos de chocolate... Mas depois lá se vai o tique de atirar belas bolas de fumo ao ar.
Uma conversa qualquer
Para conversar qualquer coisa serve. Qualquer assunto. Aliás, uma conversa qualquer é isso mesmo: uma conversa sobre um assunto qualquer. Não importa ao certo qual, desde que seja com qualquer um e em qualquer lugar. Nada maior e mais nobre existe senão conversar. Por isso falemos. Conversemos. Troquemos conversas. O necessário mesmo é que se troquem umas palavras quaisquer para então no fim podermo-nos ir embora com a consciência tranquila de que falámos sobre qualquer coisa. Falámos. Pronto. Está dito. Nada mais há depois a registar. Porque qualquer coisa é sempre preferível a coisa nenhuma. E disso não há qualquer dúvida.
Palavras...
Alguém me pode explicar porque razão a palavra ?analogamente? ainda não foi motivo de estudo detalhado? Porque razão uma palavra que tem começo em 'anal' pode ser usada como sinónimo de "semelhante", "afim", "parecido" ou mesmo "aproximado", e ninguém reparar nisso!?!?!
Allô!?
ANAL!!!
Há lá perversão maior que esta?
O que se segue?
Pilau?
Teremos algum senhor doutor a proferir numa conferência:
-"Eu creio que, analoga e pilaumente a isso, há muito ainda a ser estudado."
Não me parece...
C & R
Contexto. Contexto e Relatividade.
Eis os pilares da vida moderna.
É graças a eles que conseguimos compreender o mundo de hoje em dia.
Contexto. Relatividade.
Por eles podemos perceber tudo. Por eles sabemos que, se virmos um tipo cantar mal no chuveiro, não o mandamos calar; por eles sabemos que se virmos um tipo cantar no meio da rua o chamamos de louco e por eles sabemos que se virmos um tipo agarrado a um microfone em cima de um palco lhe damos 35? das nossas poupanças com todo o gosto.
Contexto. Relatividade.
Da mesma forma, se ouvirmos 'Kuduro' numa discoteca na margem sul do Tejo lhe chamamos música brega, mas nos jardins da Gulbenkian transforma-se em música étnica.
Contexto.
Relatividade.
Analogamente, a traição masculina nalgumas sociedades obriga ao capanço do dito, enquanto noutras isso é visto como um acto de pujança e virilidade.
Contexto...
Relatividade...
É talvez devido a estes pilares de raciocínio que os actuais governantes do nosso país nos dizem para acreditar no futuro:
-Dado o actual Contexto mundial e uma vez que a felicidade é Relativa, de facto, temos de concordar com eles: o momento é mesmo de total optimismo e contagiante alegria.
Como se fazem os iogurtes?
Esta é uma das questões que mais ocupa a mente do homem moderno dos nossos dias. E muito me apraz poder, aqui, agora mesmo, respondê-la.
O iogurte tem origem no esmagamento dos crânios dos zéfalos, animais rastejantes que existem apenas no centro da Austrália (não medem mais de um metro de comprido e pesam cerca de 15 kilos). Após o esmagamento do crânio dos zéfalos, a massa obtida é desfeita por um processo químico denominado azefalialactisferta, de onde se extrai o lado pastoso e branco da massa cerebral dos zéfalos. Esse produto é então exportado em grandes contentores para todo o globo.
Em cada país, posteriormente, o lacti (nome pelo qual é comummente conhecida essa pasta branca), é depois misturado com água das pedras e pastilhas de cálcio. Este processo leva cerca de 4 dias e é acompanhado de perto por especialistas com idades nunca inferiores a 19 anos e nunca superiores a 22. As razões de tal coisa são ainda um mistério, mas a verdade é que sempre que se tentou furtar tal regra universal, isso só deu merda.
Após o lacti ter sido misturado e remisturado e controladamente transposto para os bidões que darão os iogurtes, é adicionado o corante.
O corante tem sempre origem animal. Isto nos bons iogurtes. Porque nos maus adicionam tinta bio-degradável. Quanto aos corantes, o mais usado é o branco (recorrendo ao sangue das térmitas africanas) ou o branco pérola (vermes-de-sola de Singapura). Para cores mais fortes recorrem-se às aféminolíneas do sangue dos animais de sangue quente, abatidos nos matadouros por esse mundo fora.
Após esta mistura, o leite iogúrteo é então vertido para uns pequenos boiões, para posteriormente ser selado e comercializado.
A razão do prazo de validade dos iogurtes nem é tanto o facto de se poderem estragar, mas apenas porque os corantes têm uma duração limitada, após a qual ser ultrapassada logo começarem a decompor, todos eles, em verde acastanhado.
Assim é, portanto, como se fazem os iogurtes.
(Grosso modo, claro!)
Tu hablas português!?
Porque é que tantos pacotes de cereais e de sumos e de bolachas e de pastas de dentes e de champôs e de detergentes e de tantos eteceteras trazem sempre o nome e as restantes laminares frases de promessa publicitária em espanhol e, quando toca ao português, vem tudo numa letra uns tamanhitos abaixo!?!?
Isso significa o quê?
O tamanho da letra é proporcional ao número de falantes de cada língua no mundo!?
Como é que fazem então com os chineses?!Oferecem uma embalagem extra, vazia, para lá escreverem em letras gordas tudo o que não coube na embalagem principal!?
IBM
e se, às 17:40h o vosso disco rígido resolver presentear-vos com um knock-out e sucessivo barulho repetitivo da agulha, isso é........
...um disk-boot-faillure.
Mas não se preocupem;
basta terem feito um backup dos últimos 10 anos do vosso disco rígido nalguns DVD's.
Parques de Estacionamento
O melhor indicador de diversão para uma criança é o tamanho do parque de estacionamento.
Se é grande, então há muita gente.
E se há muita gente ali parada, só pode ser porque ali há imensas coisas para alguém se divertir.
É matemático.
E infalível.
Já alguém viu parques de estacionamento gigantes e abarrotadamente cheios de carros junto de uma repartição das Finanças!? Respondo por vocês: não.
Mas o que acontece com estes locais:
praias no verão, estádios de futebol antes de um jogo, centros comerciais ao fim-de-semana, qualquer dia e qualquer hora na IKEA, fim-de-semana de sol no jardim zoológico...?
R: Todos têm os parques de estacionamento incrivelmente cheios.
Não há que enganar.
Para uma criança, um parque de estacionamento só pode significar uma coisa: divertimento. Ali estão milhares de pessoas que pensaram ao mesmo tempo "'bora lá divertirmo-nos um bom bocado".
E porque é que isto é verdade? Porque só sabendo que o divertimento ia valer a pena estas pessoas se deram ao trabalho de enfrentar intensas filas de trânsito no mesmo sentido e a busca infindável por um rectângulo preto delimitado a traços brancos.
Façam o teste. Vão a um qualquer lugar onde um enorme parque de estacionamento esteja cheio e perguntem ao puto que vai no banco de trás:
-"Ouve, o que achas que se está a passar aqui?"
A resposta dele é imediata:
-"Não sei, mas deve ser fixe."
Top-Speed-Film
Já vi mais de 10.000 filmes na minha vida.
Quando digo isto às pessoas, quase ninguém acredita.
Mas é verdade.
É claro que a maior parte destes os vi desde o aparecimento do DVD. Mas isso não importa.
O que importa é que os DVD?s me facilitaram muito a vida no que respeita a ver filmes.
Se nos livros me bastava ler o índice e a última página (resultando isso às vezes na perda de cenas interessantes e cruciais lá pelo meio), com os DVD's isso não acontece, porque alguns trazem páginas de selecção de capítulos tão extensas e detalhadas que dá para ver o filme todo como se fosse uma autêntica B.D.
É fantástico!
Só faltam mesmo os balõezinhos!
Com isto, cada vez mais adoro as novas tecnologias ao serviço da sétima arte. E cada vez mais adoro ver filmes.
Às carradas!
Presentes de Natal
A forma mais camuflada de chantagem e compra de favores que há são os presentes de Natal.
Toda a gente vê a polícia a apanhar bandidos que traficam droga, políticos facilmente subornáveis, dirigentes desportivos corruptos... mas já alguém viu a D.ª Luísa ser presa porque ofereceu a última fragrância da Dior à menina Carla do Banco!?, ou o Sr. Silva por dar umas garrafas de tinto alentejano ao tipo do café onde vai todos os dias tomar a bica e engolir um croquete da casa!?
Claro que não.
Mas a verdade é essa:
Todos os santos Natais somos inundados com presentes de quem precisa de nós, e todos os santos Natais inundamos de presentes quem mais precisamos.
Gastamos 40? numa garrafa de espumante e oferecemo-la com um sorriso; mas o que queremos dizer em surdina, realmente, é:
-ouça, Sr. Ferreira, nos próximos 365 dias do ano, não se esqueça de me dar aquele croquetezinho a mais e de me piscar o olho quando o arroz for de ontem!
E é claro, do lado de lá vem sempre aquele sorriso fraterno e honesto de quem é presenteado com tais ofertas e cintilantes sorrisos cristalinos, ocultando por sua vez um pensamento incontornável:
-Claro que não me esqueço! Nem de si nem dos 130 clientes que cá vêm encher-me de chouriços da terra e de farnéis com pães-de-ló com sabor a água! É isso e depois fechar as portas! Deixe mas é aí a Murganheira e continue a comer os croquetes do dia anterior a pensar que são frescos...
a rotina...
Eu sou um tipo que gosta da rotina. A rotina conserva. A rotina tranquiliza-nos. Todos os dias acordamos à mesma hora, passamos a sentir fome sempre nas mesmas alturas do dia, tudo está programado para acontecer matemática e mecanicamente em momentos muito precisos do dia.
Podemos relaxar e viver em paz.
No fundo, só temos de nos preocupar uma vez em planear como queremos que sejam os nossos dias, e a partir daí é curtir.
É como se fôssemos o capitão Kirk e nos puséssemos a andar por aí com a Enterprise em velocidade de cruzeiro. Podíamos então recostar-nos na cadeira, com os braços atrás da nuca e desfrutar da vista e do passeio.
O único problema da rotina é quando, um dia, quando era suposto acontecer-nos rotineiramente alguma coisa, tal não acontecer.
Entramos em colapso.
A partir daí o mundo desmorona-se, entramos em Warp 20 e desatamos a ligar a todos os amigos psicólogos e cardiologistas que conhecemos. Do lado de lá, como é lógico, temos essa voz de compreensão e inteiro interesse profissional:
-Então, o que se passa!?
(É aqui que nós podemos descarregar todos os nossos desabafos)
-João, não sei o que tenho... não sei o que se passa comigo!! Por esta hora era suposto a minha bexiga estar aflita, mas não sinto vontade nenhuma.
Do lado de lá, como é lógico, a reacção não se faz esperar:
-Põe-te aqui depressa. Isso é grave!
-Eu sabia! Isto nunca me aconteceu... Eu bem suspeitei quando na terça-feira passada só me veio a fome dez minutos depois do que é habitual!...
xixi...
Não vou mais fazer xixi.
Renuncio a essa faculdade animalesca e grotescamente primária.
Para que é que quero isso!? Para que hei-de ir três ou quatro vezes por dia ao WC? Lavar as mãos três ou quatro vezes... Gastar três vezes litros de água e três vezes litros de detergente e três vezes três folhas de papel para limpar as mãos!?...
Não.
Esqueçam.
Não há nada de bom no facto de podermos fazer xixi.
Muito pelo contrário!
E agora que não faço mais xixi, vou também renunciar às minhas capacidades fecais. Porque isso sim, será revolucionário. Irei tirar a sanita da casa-de-banho e colocar aí um bom sofá!
Para que havemos de estar a ler o jornal com o rabo sentado numa louça fria, se o podemos fazer no conforto de uma boa poltrona!?
Perguntam os demais:
Mas para quê renunciar a tudo isto se posso ter uma poltrona na sala?
Ora, meus caros, ora... Por razões mais do que óbvias!
-Na sala entra toda a gente, quando quer e bem lhe apetece; no WC não; o WC é o nosso refúgio, o nosso cantinho eremita.
-Na sala não temos água mesmo ali à mão; no WC basta esticar o braço e abrir a torneira.
-Mais: no WC podemos pôr-nos em frente do espelho e admirarmo-nos enquanto fazemos figuras ridículas à vontade (sim, porque ninguém alguma vez irá arriscar fazê-lo na sala).
- Mas sobretudo: a grande vantagem de uma poltrona no WC é porque ninguém se senta na poltrona da sala a ler o jornal completamente despido da cintura para baixo.
Experiências
Porque é que temos de passar por tantas experiências traumáticas más, e não passamos igualmente por imensas experiências traumáticas BOAS!?
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